Foto: Fábio Rodrigues Pozzebom/ABr
A dor nas costas está entre as principais causas de aposentadoria por invalidez no Brasil
Usar relaxantes musculares ou analgésicos para aliviar
aquela dorzinha que de vez em quando aparece nas costas é uma
estratégia desaconselhável e pode resultar em dano maior à coluna
vertebral.
Para informar as pessoas sobre as principais medidas
de prevenção e os riscos que algumas atividades podem trazer à coluna,
diversos fisioterapeutas, especialistas em tratamentos para a coluna, lançaram hoje (2), de forma simultânea, em 30 cidades, a Campanha Nacional Alerta para Prevenção de Dores nas Costas.
Em Brasília, fisioterapeutas foram ao Parque da Cidade
para alertar os frequentadores do local. “Nosso foco é a prevenção
desses problemas e chamar a atenção para a necessidade de um diagnóstico
precoce, além de contribuir para que as pessoas tomem a decisão de
melhorar a postura para proteger a coluna”, disse à Agência Brasil a
diretora do Instituto de Tratamento da Coluna Vertebral (ITC), Ângela
Lepesqueur.
Segundo a fisioterapeuta, as pessoas precisam ficar atentas a
quaisquer dores irradiadas (aquelas que percorrem um caminho ao longo do
corpo, em geral associadas aos nervos comprometidos), formigamentos e
dormência em membros, falta de força, dores espontâneas que surgem sem
motivo aparente, além de contraturas musculares nas regiões lombar e
cervical e dores locais ou decorrentes de posturas mantidas.
“O maior problema é quando a pessoa resolve o incômodo tomando
analgésicos, porque deixa de investigar a causa e, com isso, o problema
fica maior”, ressalta Ângela.
Foi o que aconteceu com o lanterneiro (funileiro) Revanildo
Rodrigues, 38, morador da Estrutural. “Eles me alertaram que é
importante eu estar sempre atento à minha postura e que tenho de
reeducar meu corpo”, disse. O trabalho de Revanildo requer muito esforço
físico, e a dor o acompanha há mais de oito anos.
“Minha região lombar dói a toda hora, todo dia e a todo minuto, mas
nunca fiz nenhum tipo de tratamento. Soube que ia ter essa campanha aqui
no parque e resolvi vir. Eu não associava essas dores à minha postura.
Tomava então relaxantes musculares e achava que estava pronto para o dia
seguinte”, disse o lanterneiro.
O problema de saúde então começou a se transformar em problema
financeiro. “Era comum eu ficar dois ou três dias sem trabalhar. Como
sou autônomo, ganho pelo serviço. As repetições [das crises de dor]
acabaram comprometendo entre 30% e 40% dos meus ganhos mensais”.
A conversa com os fisioterapeutas ajudou Revanildo a se convencer de
que precisa consultar especialistas no problema. “Na segunda-feira vou
ao fisioterapeuta ver qual é o exercício ideal para ajudar a reeducar
minha postura. Do jeito que está, não tem como. E a tendência é piorar”,
concluiu.
Outras pessoas precisam de tratamento para lidar com problemas
congênitos. “Nasci com uma vértebra a mais do que o normal”, explica a
farmacêutica Débora Souza, 46, moradora do bairro Sudoeste. “Isso
resulta em uma compressão da vértebra sobre as outras, o que me causa
dores desde os 30 anos”, acrescentou.
Por causa do problema, Débora teve de abandonar diversas atividades
físicas que tinha como hobby. “Eu gostava de trekking [caminhada em
trilhas], bicicleta, vôlei. Tive de abandonar tudo por causa da dor.
Para piorar, fiquei traumatizada com o ortopedista que me orientou a
fazer musculação e pilates. Como a orientação da academia não era
específica para o meu problema, acabei forçando [de forma inadequada] a
minha coluna. O resultado foi que as dores aumentaram ainda mais”, disse
a farmacêutica.
“Um médico chegou ao cúmulo de recomendar que eu fosse a um
psiquiatra por achar que a origem do problema era de fundo psicológico”,
acrescentou. A solução foi apresentada por um fisioterapeuta: duas
sessões semanais de fisioterapia e pilates leve e direcionado ao
problema. Com o tempo, a musculatura fortaleceu e hoje a farmacêutica já
pode fazer exercícios de maior intensidade.
Depois de descobrir que tinha três hérnias de disco na coluna lombar e
de sentir muita dor, a engenheira mecânica Juliana Mol, 35, moradora do
Sudoeste, ouviu de seu médico a recomendação de que fizesse
hidroterapia. Infelizmente, as dores continuaram. O médico sugeriu,
então, que ela fizesse uma cirurgia.
“O problema é que ele não garantiu que a cirurgia aliviaria minha
dor. Em meio a essa incerteza, optei por um tratamento conservador.
Foram cinco meses de fisioterapia para introduzir os exercícios ideais.
Sentia que a dor ia e voltava, e, gradativamente, a dor virou
desconforto para, depois, desaparecer”, disse a engenheira, que faz
fisioterapia há dois anos.
Professor de educação física, Andrett adverte: exercícios sem
orientação profissional podem resultar em danos à saúde. Nesse sentido, o
acesso a equipamentos públicos de musculação representa um risco maior
aos praticantes.
“A gente sabe que muitos não têm acesso a profissionais para orientar
as atividades físicas. O que indicamos para esses casos é que eles
pratiquem a atividade de forma mais moderada e com maior amplitude
[maior número de repetições do exercício, mas com uma carga mais leve],
sempre lembrando que a dor é o limite de qualquer movimento”.
Fonte: Pedro Peduzzi/Agência Brasil
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